Sobre tecnologias da comunicação

Ao contrário do conceito de comunicação, que normalmente varia conforme o contexto e o foco de interesse relacionado ao seu estudo, o termo tecnologia possui uma acepção bastante clara e consensual no meio acadêmico ainda que costume ser pouco questionada. Assim sendo, por tecnologia entende-se aplicação de conhecimentos técnicos e/ou científicos provenientes de uma ou mais área de conhecimento a um determinado campo de atuação.

Se consideramos o conceito proveniente da área da Comunicação Social, de que a comunicação consiste na propagação de mensagens por meio dos veículos de comunicação de massa – ou mídias – para um público mais ou menos vasto e distante, então é natural que o termo tecnologias da comunicação remeta ao uso de mídias específicas (em especial o smartphone e o tablete de aplicativos de redes sociais que utilizam a internet. De fato, os smartphones, tablets e aplicativos de redes sociais constituem tecnologias, mas não é este o tipo de tecnologia da comunicação em que estamos interessados, pois trata-se do uso de conhecimentos científicos provenientes das áreas de engenharia elétrica e computação que são aplicadas no campo da comunicação o que revela um erro: na na realidade o termo correto, neste caso, seria tecnologias para a comunicação. Aqui, estamos interessados em colocar as coisas em seus devidos lugares invertendo a lógica, de modo que, para nós, as tecnologias da comunicação que realmente importam são aquelas que fazem uso das técnicas e/ou conhecimentos provenientes da comunicação para serem aplicadas em outros campos de atuação humana.

Com esta nova lógica, pretendemos aplicar os conhecimentos de comunicação para resolver problemas especificamente nos campos da saúde, da educação e dos negócios. Para tanto, procuramos por uma definição de comunicação que não dependa de variáveis complexas, obscuras ou abstratas demais de modo a manter as suas características essenciais. Encontramos um caminho para o conceito de comunicação dentro da noção de interação que ocorre entre humanos e artefatos dentro de uma estrutura de hierarquia de processo interdependentes e conectáveis proposta por Douglas Carl Engelbart (1962) que foi denominada de sistema H-LAM/T (Human using Languages, Methodologies and Artifacts in which he is Trained). Deste modo, por comunicação entendemos o processo dinâmico, imprevisível e de caráter adaptativo que e estabelece a partir de uma relação entre entidades através do qual pelo menos um dos agentes seleciona certas capacidades dentro de sua hierarquia de repertório individual buscando ajustar o seu comportamento – sem que se saiba como este comportamento se manifesta e como eles irão impactar no comportamento dos outros agentes – ou o modo como utiliza os artefatos disponíveis – de maneira que determinadas situações podem sugerir novos usos – com base nas informações obtidas de modo direto ou indireto sobre si mesmo ou sobre o mundo no sentido de resolver de um problema específico – que, no entanto, não é necessariamente declarado de modo explícito pelos agentes e nem tampouco garante que os ajustes tenham sido realizados adequadamente para resolver o problema implícito.

Nossa definição de comunicação apresenta aspectos variáveis (entidades capazes de agir – os agentes – e entidades incapazes de agir – os artefatos) e constantes que a caracterizam: (1) o processo dinâmico, imprevisível e de caráter adaptativo, (2) a relação entre entidades que cooperam para realização de um objetivo; e (3) e a existência de um objetivo ou problema a ser resolvido. O interesse do Grupo de Estudos em Tecnologias da Comunicação está no processo de comunicação que ocorre entre agentes humanos que costuma ser denominado de comunicação interpessoal. A partir desta compreensão, estabelecemos que as tecnologias da comunicação compreendem todas as capacidades humana ou artefatos criado pelo ser humano que possam ser utilizados em um processo de comunicação de modo que possa ajudar na resolução de algum problema. Assim, consideramos como tecnologias da comunicação:

a) a linguagem, enquanto a capacidade psicofisiológica para manipular e expressar emoções, conceitos e relações que façam sentido por meio do próprio organismo (linguagem não verbal) ou por meio simbólico (linguagem verbal);

b) a metodologia, enquanto conjunto de capacidades mentais para organizar, planejar e controlar a execução de outras atividades mentais e físicas com um propósito estabelecido;

c) o ensino, enquanto um conjunto de capacidades e comportamentos que um indivíduo utiliza com o objetivo de instruir outros indivíduos, ampliando seus conhecimentos ou suas habilidades na utilização de algum artefato; e

d) a aprendizagem, enquanto conjunto de capacidades e comportamentos que um indivíduo utiliza com o objetivo de adquirir conhecimentos ou habilidades práticas desejadas que normalmente são apresentados por outro indivíduo ou que estejam disponíveis em produtos escritos ou audiovisuais.

Convém observar que o que chamamos de tecnologias da comunicação também poderia ser denominado tecnologias da mente, tecnologias linguísticas ou até tecnologias da educação. Isto acontece porque a linguagem, por exemplo, é uma capacidade psicofisiológica do ser humano que faz uso de uma língua específica para expressar suas emoções e ideias em um processo de comunicação para que, por exemplo, um professor seja capaz de ensinar um determinado conteúdo para um aluno. Assim, a tecnologia pode ser qualificada em termos de qualquer um dos vieses usado para abordar o assunto: da comunicação, da mente, linguística, da educação ou qualquer outro que esteja relacionado. Entretanto, consideramos a comunicação como a atividade subjacente que invariavelmente está presente em todos os casos, afinal, não há fenômeno psicológico, linguístico ou educacional sem que se estabeleça um processo de comunicação entre os agentes envolvidos.